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quinta-feira, abril 21, 2011

Coisas de irmãs

Eu e a minha irmã temos exactamente 9 anos e 6 meses de diferença.
Quando olho para trás, para todos os momentos que passámos juntas, fico maravilhada pela forma como a nossa relação evoluiu, mudou e
ainda assim permanecemos unidas.

A minha irmã tomou conta de mim quando eu era bebé e a minha mãe não podia. Deu-me banho, mudou-me as fraldas e cantou canções de embalar para me adormecer. A minha primeira palavra "Olá", foi graças a uma grande insistência dela, que passou toda uma viagem de carro a dizer-me olá, talvez na esperança que eu fosse uma espécie de papagaio. Mas eu já era desmancha prazeres desde pequenina e mantive-me toda a viagem calada. Só quando chegámos ao destino, tendo já a minha irmã desistido de me fazer soltar algum som compreensível, é que decidi dizer olá a toda a gente que passava por mim.

Quando eu era criança e ela estava já na conturbada fase da adolescência, foi a fase mais complicada. É claro que nos adorávamos, mas eu adorava ainda mais arrelia-la. E ela não tinha grande paciência para aturar a pirralha chata. Lembro-me que, uma vez, lhe escondi um papel importante da escola e à noite ela andava a virar a casa toda à procura do papel. E acusava-me de o ter escondido e eu jurava a pés juntos, na altura com 6 anos, que não tinha sido eu. Até que, por fim, lá tirei o papel do esconderijo e deixei-o num lugar mais acessível na secretária dela, e fui refugiar-me nos braços da mamã. Divertia-me a irrita-la mas também receava que ela se irritasse para valer, apesar de ela nunca me ter batido.

Ainda me lembro de quando brincávamos juntas, na cama ou no sofá, a fazer cócegas uma à outra. Ou quando eu tentava expulsa-la da cama e me esforçava para a puxar e a empurrar até ela cair da cama. Nunca fui bem sucedida, claro. Ela fazia-se ainda mais pesada e só se ria quando eu a puxava pelas pernas e a tentava rolar pela cama até ficar sem forças.

Houve uma vez, com uns 5 anos, que a mordi. Primeira e única vez, situação que rende muitas gargalhadas cá em casa e que na altura me rendeu uma palmada do meu pai no rabo. Foi numa fase em que era moda, no infantários, os miúdos andarem à dentada. E eu achei que fazia todo o sentido levar tais práticas canibais para casa e aplica-las à melhor cobaia do mundo: a minha irmã, claro! Era de manhã e ela estava a lavar os dentes quando eu entrei na casa de banho. Foi quando, do nada, lhe agarrei a nádega direita como quem agarra uma sandes ou um Big Mac e lhe dei uma dentada. Assim, sem aviso prévio. Ela gritou, os meus dentes ficaram marcados no rabo dela e o meu rabo tremeu com a palmada que recebeu. E a experiência nunca mais se repetiu. E caso estejam a pensar nisso: não, não ficou nenhuma marca permanente, garanto-vos.

Sou uma Mini praticamente sempre com a resposta na ponta de língua e uma resposta certeira. Devo-o à minha fantástica irmã, que também domina essa arte. Desde miúda que, a discutir ou só a brincar, lhe mandava bocas, inicialmente, ouvidas na escola ou na TV, e mais tarde, elaboradas por mim. E claro, ela respondia-me sempre à letra, e deixava-me sem resposta. Eu ficava a pensar naquilo, a elaborar uma contra-resposta. E uma contra-contra-resposta e assim sucessivamente. Ou usava as brilhantes respostas dela na escola. Era um exercício mental excelente. Adorava! E de repente, as discussões com a minha irmã tornaram-se uma boa fonte de maneiras para calar os idiotas coleguinhas de escola, que me atormentavam por ser mini. Até que, o aprendiz supera o mestre, e comecei a conseguir responder à letra à maninha e deixa-la também sem resposta. Hoje em dia, ainda continuamos a picar-nos mutuamente. Às vezes, ganha ela, outra vezes, ganho eu, mas sempre com fair-play!

Acho que foi na minha adolescência que começamos a tornar-nos mais amigas e não somente irmãs. É claro que não éramos confidentes, a diferença de idades era um impecilho a tal. Mas as discussões tornaram-se pouco frequentes. A relação tornou-se mais harmoniosa e calma. Além disso, quando deixamos de viver juntas, tornou-se uma enorme perda de tempo, gastar o tempo que estávamos juntas a discutir. De repente, eu já não era a pirralha insuportável. Era a irmã mais nova, a pequenina dela, mas começou a levar-me com ela, quando saia com os amigos, a convidar-me para ir passar umas mini-férias em Lisboa, só com ela. E quando entrei para a faculdade, considerou-me minimamente adulta, ao ponto me perguntar pelos namorados ou se precisava de preservativos "porque é melhor estares prevenida para o caso dele não ter...", o que me fazia corar de vergonha por, de repente, estar a ter tal conversa com a minha irmã mais velha.

A verdade, é que faço tudo pela minha irmã e ela por mim. No meu aniversário de 12 anos, ela levou-me ao cinema com uma amiga minha, mesmo tendo que estudar porque ia ter exame uns dias depois. Levou os livros para o centro comercial para estudar enquanto víamos o filme, mas claro, pouco estudou. Mas não se queixou, nem me tentou demover da ida ao cinema. Na minha primeira Queima, quando eu ainda não tinha carta, ela foi comigo a algumas Noites do Parque e, nas outras, foi ela que me foi buscar, quase às 4 da manhã e cheia de sono. Algo que muito espantou os meus colegas e amigos que não achavam normal a minha irmã fazer aquele "frete" por mim, pois os irmãos deles não fariam.

A minha viagem de finalistas foi com a minha irmã. Eu não quis ir para Lloret de Mar. Não fazia o meu género, achei um absurdo o preço, e não me imaginava a ter que aturar a minha turma bêbada. Se nem sóbrios eles são aturáveis, nem queria imaginar bêbados... Portanto, fui a Paris com a minha mana e uma amiga dela. Foi das melhores decisões da minha curta vida.

Depois de quase ter morrido afogada numa piscina, por volta dos 4 anos, eu só entrava na piscina ou no mar com a minha irmã. Era a única pessoa em quem eu confiava. E ela nadava na praia comigo às cavalitas dela, até eu me tornar demasiado pesada para fazer tal coisa. Então, começou a tentar ensinar-me a nadar, depois de vários professores de natação terem falhado pois nem conseguiam que eu entrasse dentro de água. Ainda me lembro, dela no Verão, a tentar ensinar-me a boiar, depois de uma luta intensa para conseguir que a Mini se acalmasse, perdesse o pânico, e parasse de a agarrar como um náufrago a agarrar a sua tábua de salvação. É verdade que não me ensinou a nadar - só aos 15 anos é que reuni estabilidade emocional suficiente e confiança na professora para aprender o imprescindível para me safar - mas, quando relembro a quantidade de vezes que aguentou estar na piscina e no mar, comigo agarrada a ela como uma lapa, admiro-lhe a paciência, a dedicação. Aquilo, meus amigos, era amor puro. Totalmente incondicional. Quando penso nisso vêm-me as lágrimas aos olhos porque acho, que aqueles foram os momentos, em que a minha irmã melhor manifestou como me amava e me protegia a qualquer custo. Sem palavras, ela gravou em mim a certeza de que ela estaria ali, para sempre, para o que desse e viesse. E que não me soltaria nem perante um tsunami.

E ela é "só" minha meia-irmã. Não temos o mesmo pai em comum, mas isso nunca fez diferença entre nós. Nunca influenciou de forma alguma o nosso sentimento. Na verdade, a maior parte do tempo nem me lembro que temos pais diferentes. E enche-me de mágoa e revolta, as pessoas tacanhas que defendem que irmãos filhos do mesmo pai, são irmãos enquanto que os irmãos filhos da mesma mãe, são apenas meio-irmãos. Que há diferença, para além das óbvias (os primeiros terem saído da mesma pilinha e os segundos terem partilhado a mesma barriga), que torna uns mais irmãos que outros. Sinceramente, alguém devia explicar aquela questão dos cromossomas a esta gente: 23 cromossomas de um espermatozóide, 23 cromossomas de um óvulo. Se só tem um progenitor em comum, são meio-irmãos, tenham o pai ou a mãe em comum. Ponto final. E olhem que eu não sou nenhuma especialista em ciências, biologias e afins...

Meia-irmã ou não... É minha. A melhor do mundo. 
O meu role model,
em conjunto com a mamã.

E, ainda que ela não vá ler este texto, nem eu alguma vez lhe tenha dito estas coisinhas bonitas, sei que ela, no fundo, sabe. 
Ou pelo menos, assim espero.

10 comentário(s):

C. disse...

devias deixá-la ler isto :)

Anónimo disse...

Adorei este texto!

Ela havia de gostar de ler... mas como dizes, ela certamente deverá saber ;)

MuxaGata disse...

Eu tenho duas meias-irmãs e nunca esse facto mudou algo. :)

Jedi Master Atomic disse...

"...é que decidi dizer olá a toda a gente que passava por mim."

Afinal eras papagaio :P

"...as pessoas tacanhas que defendem que irmãos filhos do mesmo pai, são irmãos enquanto que os irmãos filhos da mesma mãe, são apenas meio-irmãos."

Hein???? Nunca ouvi essa teoria !!! Mas parece vir daquelas mesmas pessoas que dizem "estás mais gordinho, com um ar mais saudavel".

Concordo com a Jessica, devias mostrar-lhe o texto. Não digo para mostrares o blog, apenas o texto. Embora ela tendo o texto possa descobrir o blog...lol

Joana | My Pretty Mess disse...

:)
Também tenho uma irmã, com apenas 10 meses de diferença (sou a mais velha!), e passamos a vida à bulha. Meu Deus!
Ainda agora me está aqui a moer o juízo porque vamos sair e estou a escrever este comentário. E ela ainda está de pijama. Ai, irmã mais velha sofre...

Joana | My Pretty Mess disse...

Ah, e porque não mostrares o texto à tua irmã?
Eu fiz o mesmo...
http://fim-do-diaaa.blogspot.com/2011/01/ter-um-irmao-e.html

Sky disse...

Sou filho único... nunca tive esse tipo de experiencias :(
hehe :)

M. disse...

Jedi: Em miúdos somos todos um pouco papagaios lol E essa história dos meio-irmãos, eu fiquei a saber por duas pessoas, ouvi de colega do meu pai e li num blog a blogger a defender tal teoria. Não disse nada, nem a um nem a outro, mas acho um absurdo. O engraçado, é que como a minha irmã tem outro meio-irmão mas por parte do pai, segundo esta teoria, eles são irmãos e eu só meia-irmã. Faz imenso sentido! :P

Meninas que sugeriram que eu mostrasse o texto: Eu e a minha irmã não somos muito de andar agarradinhas, aos beijinhos e a dizer "adoro-te muito" lol A primeira coisa que ela diria a ler o texto era "epah, que lamechice". :P E é sempre um bocadinho complicado expor os nossos sentimentos, assim, por dá cá aquela palha. Mas talvez a presenteie no próximo aniversário com uma versão deste texto.

Joana disse...

grande texto! parabéns!

C. disse...

eu e o meu irmao temos uma diferença de 6 anos e meio... foi complicado durante a minha adolescencia porque ele fazia a minha vida num inferno!