O dia hoje começou cedinho com frio e a chover a sério. Larguei o carro ao lado do Ministério da Saúde e de guarda-chuva em punho concentrei-me em percorrer o resto do caminho até à faculdade molhando-me o menos possível. Estava a passar nas passadeiras dos arcos quando ouço alguém chamar "olha, desculpa?". Virei-me para trás e deparei-me com uma miúda quase colada a mim "Sim..?" "Vais para ali?" e apontou com o dedo para a subida dos arcos. Respondi que sim e ela pediu-me boleia no guarda-chuva.
Dei uma olhadela rápida ao mini guarda-chuva, daqueles que até cabem na carteira e pensei que, se mal me tapava a mim, ia ser lindo tapar-nos às duas. Mas nem pensei em dizer que não. Passei-lhe o guarda-chuva porque já estava a ser difícil carregar a pasta com Código Civil, a carteira e o guarda-chuva sem me estar a preocupar em cobrir outra pessoa para além de mim.
Que grande erro, pá! Assim que se viu de guarda-chuva na mão, pôs a primeira e tive que acelerar o passo para a conseguir acompanhar. Talvez o óbvio não seja tão óbvio para algumas pessoas mas, pessoas mini dão passos mini. Mais curtos. Lamento, mas as minhas pernas não aguentam andar a passos de gigante por muito tempo. Além disso, eu estava de saltos. Quando dei por mim, estava a fazer a subida dos arcos já com as pernas a doer e a respiração ofegante, a esforçar-me para manter o ritmo daquela desconhecida apressada, sendo que eu só tinha aulas dentro de 40 minutos!
Ela ainda me perguntou se estava a andar muito depressa, mas bolas, sou orgulhosa e recusei-me a dar o braço a torcer. É estúpido, eu sei. Na hora, mal lhe respondi que não, que estava óptima, insultei-me mentalmente todos os nomes que me lembrei. Entretanto perguntou-me onde estudava, respondi-lhe FDUC mas apressei-me a acrescentar que ia ficar nas Matemáticas, para tirar fotocópias - benditas fotocópias!
Mas então, fez-se destino! Ou justiça. Whatever. É por isso que eu adoro aquele ditado que diz que quem ri por último é quem ri melhor. Se a rapariga se estava a divertir com as minhas dificuldades físicas, muito mais me diverti eu depois. Estávamos já a chegar às matemáticas quando ela, com um vento mais forte, deixou escapar o guarda-chuva. Se eu já estava sem fôlego da subida, pior fiquei enquanto me partia a rir - o mais silenciosamente possível - ao vê-la correr atrás do guarda-chuva, ora com os braços no ar como quem pede ajuda aos céus, ora quase de gatas para tentar alcançar o guarda-chuva que fugia à frente dela.
Quando ela finalmente alcançou o guarda-chuva e se virou para mo entregar, mordi as bochechas, mantive uma expressão neutra e entrei na faculdade de Matemática enquanto ela corria para a de Letras. Só quando vi que ela já se estava afastar é que me sentei nos degraus a rir-me que nem uma maníaca, agarrada à barriga enquanto tentava voltar a respirar normalmente. Ainda bem que não conheço ninguém na faculdade de matemática. Sinceramente, valeu a pena todo o esforço da subida só pela cena fantástica de perseguição ao guarda-chuva.
Adoraria dizer que o guarda-chuva não sofreu danos com
a sua fuga mas...Uma vareta foi partida durante o
processo. Valeu a pena, mesmo assim. Tudo
em nome de umas boas gargalhadas.