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domingo, outubro 24, 2010

Dá-me um abraço...

Sempre gostei mais de abraços do que de beijos. Beijos é algo tão banalizado! Cumprimento todos os meus parentes com dois beijinhos, um em cada bochecha, até mesmo aquela tia chata e rancorosa que me detesta. Cumprimento aquele amigo do meu amigo que acabaram de me apresentar. São tantos os beijos que dou só porque sim, por cortesia, que acabam por perder algum significado.

Os abraços não. Os abraços são mais escassos. São guardados para aquela pessoa especial, para aquele momento em que um abraço diz mais do que um discurso completo. Para quando nos sentimos tão, tão pequeninas que quase receamos nos tornarmos invisíveis. É um abraço que eu procuro naquele momento de grande alegria; aquele abraço tão feliz que saltamos para os braços da outra pessoa, dobramos as pernas para tirar os pés do chão e somos rodopiados no ar, em pleno êxtase. É também um abraço que procuro quando só me apetece enfiar na minha cama e chorar até adormecer. Quando a vida nos parece tão, mas tão má que nos sentimos os mais infelizes do planeta e só queremos enroscar-nos nuns braços protectores, às vezes da mamã, e voltarmos a ser crianças outra vez, despreocupados e felizes sem saber bem porquê, totalmente alheios à tristeza em nosso redor.

Dêem um abraço. Mas não só para me fazer a vontade. Façam-no com sentimento. Para partilhar a vossa alegria, tristeza ou simplesmente mostrar aquela pessoa como ela é especial. Quando as palavras falham, a voz se recusa a sair ou o nosso orgulho fala mais alto, o abraço é o meu transmissor silencioso de sentimentos.

terça-feira, outubro 19, 2010

A história da mini-camioneta

Hoje vi um homem na faculdade. Ok, vi muitos. Mas este era giro, giro, giro. E até pareço uma miúda que nunca viu um gajo à frente, mas se vocês o tivessem visto estavam como eu. Era o tipo de homem que temos que observar, ainda que discretamente. Que faz bem à vista. Que reduz todos os machos em redor a seres insignificantes. E não se tratava apenas de beleza física. Era mais do que isso. Tinha um q de misterioso e até os seus gestos mais banais eram charmosos. E estava sozinho, transmitindo uma ideia de inacessibilidade que ainda atraia mais. Nada de miúdas histéricas à volta dele, nem mesmo um amigo. Era só ele, à espera que a sua aula começasse, uma mala com os livros a tiracolo e o cigarro na mão. E eu que nem acho piada a gajos que fumam!

Observei-o à distância, a pensar que gostava de o conhecer. Não apenas por ser giro ou por qualquer razão indecente que vos possa estar a ocorrer. Era só mesmo para ver se o conteúdo corresponde ao pacote ou se é um bronco qualquer. E então, se correspondesse, sonhar com a possibilidade de algo mais. Talvez até lutar por isso.

E então, ocorreu-me que era areia de mais para a minha mini-camioneta. E este pensamento chateou-me. Muito. Chateou-me o facto de me estar a menosprezar, a concluir rapidamente que alguém como ele se podia interessar por alguém como eu. Chateou-me tanto que tentei pensar em algo para me consolar a mim mesma. Foi quando me ocorreu que talvez fosse bom ele ser areia de mais para a minha mini-camioneta. Porque de certeza que aquela areia toda ia desiludir-me, atraiçoar-me, roubar-me a gasolina e furar-me os pneus quando eu menos esperasse, exactamente como da última vez que recebi um carregamento de areia da mais alta qualidade (vulgo, ex-namorado). Era de tão alta qualidade que todas as camionetas de luxo a queriam transportar e competiam por isso. E a mini-camioneta sentia-se insegura e tentava não o demonstrar. E a areia assegurava que não havia motivos para tal, que só gostava da mini-camioneta, para sempre. A mini-camioneta convenceu-se e quando menos esperava a areia anunciou que estava confusa. Que havia uma camioneta que ela gostava muito, não sabia quanto. E que precisava pensar.

E a mini-camioneta chorou. Não muito porque teve medo de enferrujar. Sentiu-se ferida, traída mas a sua vida continuou. Pôs os limpa pára-brisas a funcionar, acendeu os faróis, buzinou e seguiu o seu caminho. Até que a areia voltou. E desculpou-se porque tinha cometido um erro. Que tinha percebido que nenhuma camioneta se comparava à mini-camioneta. Que ela era especial, única. E pediu para voltar a ser carregada pela sua camioneta querida. E esta recusou. A mini-camioneta ainda gostava muito, muito mesmo da sua areia da mais alta qualidade. Gostava tanto que recusar aquela oferta foi muito doloroso. Mas percebeu que nunca mais podia confiar na areia e que o amor não pode sobreviver sem a confiança. E que tinha o seu orgulho e amor-próprio.

Agora, pergunto-me, se a mini-camioneta não se terá reformado. Ou tirado uma licença sabática. Ou uma licença sem vencimento. Algo do tipo. Se não andará a fugir de qualquer tipo de propostas de carregamento de areia. Por medo. Medo de voltar a chorar, a sofrer. Medo de voltar a confiar e se arrepender. Ou talvez esteja simplesmente avariada e não consiga mais transportar areia. E fico preocupada com a mini-camioneta. Muito. E gostava de ajuda-la e não sei como. Talvez deva procurar um mecânico.

quarta-feira, outubro 13, 2010

O céu é o limite

Hoje, quando voltava da faculdade, apanhei uma fila descomunal no trânsito. Culpa minha que me esqueci que a estrada está em obras e não fui por uma estrada secundária. O meu erro custou-me uma horita, mais coisa menos coisa, de fila às 4horas da tarde, o sol a brilhar lá no alto, o carro sem ar condicionado a virar uma estufa, os vidros abertos, a RFM no seu auge e eu lá dentro. Óculos de sol, rabo de cavalo e cheia de paciência. E não estou a ser irónica.

Nunca entendi muito bem porque as pessoas se irritam, buzinam e se insultam uns aos outros quando estão em filas. Não é por isso que a fila vai andar mais depressa, ou é? Não me entendam mal: de manhã, quando estou cheia de pressa, também não acho piadinha nenhuma ao trânsito. Mas não é por isso que descarrego todas as minhas frustrações na pobre buzina e nos ouvidos dos outros. Ao final da tarde, então, sem horas para chegar a casa nem nenhum compromisso inadiável, não me ralo nada. Dá-me para tudo. Pensar na vida, no que tenho que fazer, tentar recordar-me o que puder das aulas... Às vezes canto, faço umas mini-danças em que só mexo os braços e a cabeça, falo sozinha... Os outros condutores devem pensar que sou tolinha.

Só para variar, decidi voltar os meus olhos para o céu e entreter-me. O céu estava naquele tom de azul absolutamente perfeito: é um azul claro, meio celeste. E as nuvens brancas, como se fossem algodão fofinho. É uma das visões mais bonitas, ainda por cima à borla e nem lhe damos importância. Estive a fazer isso mesmo que vocês estão a pensar. Aquele jogo infantil de encontrar formas, imagens e desenhos nas nuvens. Era uma coisa que já não fazia há muito tempo, pois no dia-a-dia, não posso andar por aí de nariz empinado. Digamos que já sou desastrada o suficiente sem a minha cabeça nas nuvens.

Vi de tudo. Numa mesma nuvem as imagens sucediam-se num piscar de olhos. Primeiro começou por ser uma criança, com o cabelo como a Pipi das Meias Altas. Depois a nuvem mudou para algum ser mítico que talvez só exista na minha imaginação, de cabelos longos, vestido esvoaçante e expressão sonhadora. E logo a seguir era uma bailarina de ballet, com aquelas saias engraçadas e tudo. Uma pessoa com outra nos braços, desfalecida. Um leão, um veado. Um cão saltitante e de língua de fora.

Pergunto-me se a nossa maneira de ser, a nossa vida, sonhos e medos influenciarão, de algum modo, aquilo que vemos. E o que aquilo que vejo dirá sobre mim.


sexta-feira, outubro 08, 2010

O meu velho amigo Tomás


O meu sétimo ano escolar significou uma mudança de escola, uma turma nova e um colega de mesa novo. Vamos chamar-lhe Tomás. Embirrámos um com um outro quase instantaneamente, sem qualquer motivo racional. Mas a convivência forçada, tornou-nos amigos e fomos colegas de mesa durante 3 anos.



Não era uma amizade profunda, daquelas que ficam para a vida. Até porque aos 12 anos, as amizades são todas um pouco superficiais. Tínhamos algumas coisas em comum e, por outro lado, éramos totalmente diferentes. Mas ele era diferente dos outros rapazes e até marginalizado por eles. Todos os outros rapazes da turma já se achavam muito adultos. A maior parte fumava, bebia e procurava já namoradas ou simples curtes. Eu, particularmente, detestava-os. Eram uns marginais em ponto pequeno que se divertiam a tentar rebaixar-me por eu ser baixinha, por a minha mãe ser professora, por vestir roupas de marca. Por não beber, não fumar, nem lhes fazer olhinhos ou rir que nem tonta das suas piadinhas, como as outras raparigas. Por ter boas notas, ser boa aluna, bem comportada. Ou talvez, simplesmente, porque eu tinha coisas que eles não podiam ter, às vezes por razões económicas.

Mas o Tomás era simpático. Não se importava de aos 12 anos brincar à apanhada e aos polícias e ladrões. Riamos nas aulas e conversávamos e, quando ele me chateava eu riscava-lhe a mão com a caneta. E ele ficava furioso e fazia-me o mesmo até um de nós se render. Éramos próximos e isso era motivo de gozo por parte da turma, que até começaram com as piadas sobre sermos namorados. Lembro-me de me sentir furiosa, embaraçada e até um pouco ofendida com as piadinhas. É estúpido e imaturo mas eu não queria ser conhecida como a namorada do Tomás. Não estava minimamente interessada nele e, aos 12 anos, tinha ideias muito românticas do namorado perfeito: tinha que ser giro, claro, e muito romântico. Moreno com olhos verdes. Daqueles rapazes que nos fazem suspirar e nos tiram o ar com um olhar. A verdade é que com 12 anos constrói-se um ideal de namorado perfeito muito irreal e utópico.

quinta-feira, outubro 07, 2010

A Mini recomenda... [#1]

Ainda a propósito deste post sobre séries: quem for maníaca por séries como eu sabe que, por vezes, é difícil acompanhar as novidades das nossas séries preferidas. Chegamos a um ponto que já não sabemos se já saiu um episódio novo, qual o último que vimos, a data do próximo, etc, etc, etc.

Para tudo isso existe um site, o orangotag! A minha vida de viciada em séries tornou-se muito mais simples depois de o conhecer. Quem quiser, pode ver o meu perfil aqui, adicionar-me como amiga e depois organizar todas as suas séries. É bem simples de usar!

terça-feira, outubro 05, 2010

Top Séries

Eu sou um bocadinho viciada em séries. Vejo bem mais séries do que filmes. Adoro o facto de que, nas séries, acompanhamos as nossas personagens preferidas durante muito mais tempo do que nos filmes. A "relação" é mais duradoura, sofremos quando algo de mau acontece quase como se fosse real, saltitamos de felicidade quando o casal que apoiamos fica junto, ficamos ansiosas por cada episódio... 

Como já começou a fall season nos EUA, o que significa o retorno das minhas séries, lembrei-me de fazer um top de séries que vejo/já vi, que são as minhas preferidas e que recomendo. Não vou fazer o top por ordem de preferência; vou, simplesmente, escolher as 3 séries favoritas forever and ever e, depois, se clicarem no Ler Mais vêem algumas outras séries que eu gosto. Depois digam se conhecem e/ou vêem alguma! :)

Preparados? 

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Gilmore Girls
"oy with the poodles already!"

Sinceramente, acho que esta é a minha série preferida de sempre. É perfeita. Tem um equilíbrio fantástico entre humor e drama, as personagens principais são adoráveis, cheias de qualidades e defeitos e faz-nos desejar ter relação de mãe e filha como ambas têm. Uma série que rende boas gargalhadas e, ao mesmo tempo, com vários momentos comoventes.

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Bones
"I don't know what that means"

À primeira vista pode parecer apenas mais uma série policial e por isso aconselho que vejam pelo menos as duas primeiras temporadas. Porque exactamente o que me cativa em Bones mais do que em séries como CSI, é que é uma história sobre os personagens. Cada episódio há um crime para resolver, como em qualquer série deste género, mas em Bones há um maior ênfase nas personagens, na sua história e na relação entre elas. As personagens são divertidas, inteligentes, cheias de defeitos, qualidades e fragilidades humanas. A forma como isso é explorado na série e a dinâmica entre as personagens é, na minha opinião, onde reside todo o encanto de Bones. E os crimes são bem escolhidos também; temos de tudo, desde ao mais macabro ao mais hilariante, mas sem perder a qualidade. Além de que a dupla de actores principais David Boreanaz (Seeley Booth) e Emily Deschanel (Temperance Brennan) fazem um trabalho fantástico.

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Buffy, the Vampire Slayer 
"the hardest thing in this world is to live in it"

Este Verão aproveitei para rever esta série, que já tinha visto há uns anitos. Rever apenas me recordou como ela é incrível para a sua época (1997-2003). Joss Whedon, o criador, é absolutamente genial. É uma série, obviamente, sobre vampiros e demónios em geral. E mais do que isso, é uma série sobre uma heroína, uma adolescente que só quer ser uma miúda normal mas tem que carregar sobre os ombros, sozinha, a responsabilidade de salvar  o mundo do mal até que morra e outra caçadora a substitua. E Buffy é a minha heróina de séries preferida. Pois não é a heroína perfeita: ela erra. Muito! Faz asneiras, às vezes é injusta, precisa de ajuda. Mas tem as melhores frases sarcásticas de toda a televisão. É engraçada. É tão humana que até nos esquecemos que é só uma personagem fictícia.  A série é tem humor, ironia, drama, suspense, acção. Foi uma série ousada para o seu tempo, em que um dos seus melhores episódios é praticamente sem diálogos (uma resposta de Joss Whedon às pessoas que diziam que o sucesso da série se devia apenas aos diálogos).

sábado, outubro 02, 2010

Momentos

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Sou acordada com a sua cabeça felpuda junto à meu pescoço, procurando um espaço aberto entre o edredom. Meia acordada e meia a dormir, mexo-me e levanto ligeiramente o edredom, o suficiente para ele se escapulir para debaixo dele. Deito-me em posição fetal, de lado e com as pernas flectidas. Ele aninha-se junto à minha barriga, de costas viradas para mim, procurando o calor. 

Inicialmente todo encolhido em forma de bola, vai-se esticando, preguiçoso com o calor e suspira quando termina o movimento, a cabeça dele perto do meu pescoço e a pontinha do nariz dele já fora do edredom.

Quando acordo ainda estamos na mesma posição. Estico-me como um gato, espreguiçando-me e ele remexe-se também sem acordar. Quando tomo consciência da sua presença ali, percorro os dedos pelo seu pêlo macio. Acaricio-lhe cuidadosamente as orelhas, afundo os dedos na lã da sua barriga gordinha. Ele encosta o nariz frio ao meu pescoço, como resposta. Sorrio, aperto-o ligeiramente mais contra mim e fico feliz por ser fim-de-semana e poder passar a manhã na cama. Sinto-me quente, relaxada, preguiçosa, sonolenta e com uma satisfação plena.

É a melhor sensação do mundo.