Eu e a minha irmã temos exactamente 9 anos e 6 meses de diferença.
Quando olho para trás, para todos os momentos que passámos juntas, fico maravilhada pela forma como a nossa relação evoluiu, mudou e
ainda assim permanecemos unidas.
Quando olho para trás, para todos os momentos que passámos juntas, fico maravilhada pela forma como a nossa relação evoluiu, mudou e
ainda assim permanecemos unidas.
A minha irmã tomou conta de mim quando eu era bebé e a minha mãe não podia. Deu-me banho, mudou-me as fraldas e cantou canções de embalar para me adormecer. A minha primeira palavra "Olá", foi graças a uma grande insistência dela, que passou toda uma viagem de carro a dizer-me olá, talvez na esperança que eu fosse uma espécie de papagaio. Mas eu já era desmancha prazeres desde pequenina e mantive-me toda a viagem calada. Só quando chegámos ao destino, tendo já a minha irmã desistido de me fazer soltar algum som compreensível, é que decidi dizer olá a toda a gente que passava por mim.
Quando eu era criança e ela estava já na conturbada fase da adolescência, foi a fase mais complicada. É claro que nos adorávamos, mas eu adorava ainda mais arrelia-la. E ela não tinha grande paciência para aturar a pirralha chata. Lembro-me que, uma vez, lhe escondi um papel importante da escola e à noite ela andava a virar a casa toda à procura do papel. E acusava-me de o ter escondido e eu jurava a pés juntos, na altura com 6 anos, que não tinha sido eu. Até que, por fim, lá tirei o papel do esconderijo e deixei-o num lugar mais acessível na secretária dela, e fui refugiar-me nos braços da mamã. Divertia-me a irrita-la mas também receava que ela se irritasse para valer, apesar de ela nunca me ter batido.
Quando eu era criança e ela estava já na conturbada fase da adolescência, foi a fase mais complicada. É claro que nos adorávamos, mas eu adorava ainda mais arrelia-la. E ela não tinha grande paciência para aturar a pirralha chata. Lembro-me que, uma vez, lhe escondi um papel importante da escola e à noite ela andava a virar a casa toda à procura do papel. E acusava-me de o ter escondido e eu jurava a pés juntos, na altura com 6 anos, que não tinha sido eu. Até que, por fim, lá tirei o papel do esconderijo e deixei-o num lugar mais acessível na secretária dela, e fui refugiar-me nos braços da mamã. Divertia-me a irrita-la mas também receava que ela se irritasse para valer, apesar de ela nunca me ter batido.
Ainda me lembro de quando brincávamos juntas, na cama ou no sofá, a fazer cócegas uma à outra. Ou quando eu tentava expulsa-la da cama e me esforçava para a puxar e a empurrar até ela cair da cama. Nunca fui bem sucedida, claro. Ela fazia-se ainda mais pesada e só se ria quando eu a puxava pelas pernas e a tentava rolar pela cama até ficar sem forças.
Houve uma vez, com uns 5 anos, que a mordi. Primeira e única vez, situação que rende muitas gargalhadas cá em casa e que na altura me rendeu uma palmada do meu pai no rabo. Foi numa fase em que era moda, no infantários, os miúdos andarem à dentada. E eu achei que fazia todo o sentido levar tais práticas canibais para casa e aplica-las à melhor cobaia do mundo: a minha irmã, claro! Era de manhã e ela estava a lavar os dentes quando eu entrei na casa de banho. Foi quando, do nada, lhe agarrei a nádega direita como quem agarra uma sandes ou um Big Mac e lhe dei uma dentada. Assim, sem aviso prévio. Ela gritou, os meus dentes ficaram marcados no rabo dela e o meu rabo tremeu com a palmada que recebeu. E a experiência nunca mais se repetiu. E caso estejam a pensar nisso: não, não ficou nenhuma marca permanente, garanto-vos.
Sou uma Mini praticamente sempre com a resposta na ponta de língua e uma resposta certeira. Devo-o à minha fantástica irmã, que também domina essa arte. Desde miúda que, a discutir ou só a brincar, lhe mandava bocas, inicialmente, ouvidas na escola ou na TV, e mais tarde, elaboradas por mim. E claro, ela respondia-me sempre à letra, e deixava-me sem resposta. Eu ficava a pensar naquilo, a elaborar uma contra-resposta. E uma contra-contra-resposta e assim sucessivamente. Ou usava as brilhantes respostas dela na escola. Era um exercício mental excelente. Adorava! E de repente, as discussões com a minha irmã tornaram-se uma boa fonte de maneiras para calar os idiotas coleguinhas de escola, que me atormentavam por ser mini. Até que, o aprendiz supera o mestre, e comecei a conseguir responder à letra à maninha e deixa-la também sem resposta. Hoje em dia, ainda continuamos a picar-nos mutuamente. Às vezes, ganha ela, outra vezes, ganho eu, mas sempre com fair-play!
Acho que foi na minha adolescência que começamos a tornar-nos mais amigas e não somente irmãs. É claro que não éramos confidentes, a diferença de idades era um impecilho a tal. Mas as discussões tornaram-se pouco frequentes. A relação tornou-se mais harmoniosa e calma. Além disso, quando deixamos de viver juntas, tornou-se uma enorme perda de tempo, gastar o tempo que estávamos juntas a discutir. De repente, eu já não era a pirralha insuportável. Era a irmã mais nova, a pequenina dela, mas começou a levar-me com ela, quando saia com os amigos, a convidar-me para ir passar umas mini-férias em Lisboa, só com ela. E quando entrei para a faculdade, considerou-me minimamente adulta, ao ponto me perguntar pelos namorados ou se precisava de preservativos "porque é melhor estares prevenida para o caso dele não ter...", o que me fazia corar de vergonha por, de repente, estar a ter tal conversa com a minha irmã mais velha.
A verdade, é que faço tudo pela minha irmã e ela por mim. No meu aniversário de 12 anos, ela levou-me ao cinema com uma amiga minha, mesmo tendo que estudar porque ia ter exame uns dias depois. Levou os livros para o centro comercial para estudar enquanto víamos o filme, mas claro, pouco estudou. Mas não se queixou, nem me tentou demover da ida ao cinema. Na minha primeira Queima, quando eu ainda não tinha carta, ela foi comigo a algumas Noites do Parque e, nas outras, foi ela que me foi buscar, quase às 4 da manhã e cheia de sono. Algo que muito espantou os meus colegas e amigos que não achavam normal a minha irmã fazer aquele "frete" por mim, pois os irmãos deles não fariam.
A minha viagem de finalistas foi com a minha irmã. Eu não quis ir para Lloret de Mar. Não fazia o meu género, achei um absurdo o preço, e não me imaginava a ter que aturar a minha turma bêbada. Se nem sóbrios eles são aturáveis, nem queria imaginar bêbados... Portanto, fui a Paris com a minha mana e uma amiga dela. Foi das melhores decisões da minha curta vida.
Depois de quase ter morrido afogada numa piscina, por volta dos 4 anos, eu só entrava na piscina ou no mar com a minha irmã. Era a única pessoa em quem eu confiava. E ela nadava na praia comigo às cavalitas dela, até eu me tornar demasiado pesada para fazer tal coisa. Então, começou a tentar ensinar-me a nadar, depois de vários professores de natação terem falhado pois nem conseguiam que eu entrasse dentro de água. Ainda me lembro, dela no Verão, a tentar ensinar-me a boiar, depois de uma luta intensa para conseguir que a Mini se acalmasse, perdesse o pânico, e parasse de a agarrar como um náufrago a agarrar a sua tábua de salvação. É verdade que não me ensinou a nadar - só aos 15 anos é que reuni estabilidade emocional suficiente e confiança na professora para aprender o imprescindível para me safar - mas, quando relembro a quantidade de vezes que aguentou estar na piscina e no mar, comigo agarrada a ela como uma lapa, admiro-lhe a paciência, a dedicação. Aquilo, meus amigos, era amor puro. Totalmente incondicional. Quando penso nisso vêm-me as lágrimas aos olhos porque acho, que aqueles foram os momentos, em que a minha irmã melhor manifestou como me amava e me protegia a qualquer custo. Sem palavras, ela gravou em mim a certeza de que ela estaria ali, para sempre, para o que desse e viesse. E que não me soltaria nem perante um tsunami.
E ela é "só" minha meia-irmã. Não temos o mesmo pai em comum, mas isso nunca fez diferença entre nós. Nunca influenciou de forma alguma o nosso sentimento. Na verdade, a maior parte do tempo nem me lembro que temos pais diferentes. E enche-me de mágoa e revolta, as pessoas tacanhas que defendem que irmãos filhos do mesmo pai, são irmãos enquanto que os irmãos filhos da mesma mãe, são apenas meio-irmãos. Que há diferença, para além das óbvias (os primeiros terem saído da mesma pilinha e os segundos terem partilhado a mesma barriga), que torna uns mais irmãos que outros. Sinceramente, alguém devia explicar aquela questão dos cromossomas a esta gente: 23 cromossomas de um espermatozóide, 23 cromossomas de um óvulo. Se só tem um progenitor em comum, são meio-irmãos, tenham o pai ou a mãe em comum. Ponto final. E olhem que eu não sou nenhuma especialista em ciências, biologias e afins...
Meia-irmã ou não... É minha. A melhor do mundo.
O meu role model,
em conjunto com a mamã.
E, ainda que ela não vá ler este texto, nem eu alguma vez lhe tenha dito estas coisinhas bonitas, sei que ela, no fundo, sabe.
Ou pelo menos, assim espero.