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sexta-feira, novembro 12, 2010

Carpe Diem

Estava aqui a pensar em retomar o desafio, abandonado já há uns dias por puro desleixo meu. Admito. O segundo dia do desafio é sobre "o filme da minha vida". E eu já estava com os dedinhos prontos para fazer um texto sobre Harry Potter, essa saga fantástica que acompanho desde os meus 10 anos, que tanto me fez sonhar e tanta coisa boa me proporcionou.

Mas não pude. Não pude porque, quando comecei a pensar sobre os filmes, sobre a influência que Harry Potter teve na minha vida, lembrei-me dela. Alessandra ou simplesmente leka. E então lembrei-me em como ela não veria o final de Harry Potter nos cinemas e esse pequeno detalhe, desencadeou uma corrente de emoções tal que perdi qualquer ânimo para escrever sobre a minha paixão sobre Harry Potter.

Leka foi só uma das muitas pessoas que conheci graças a Harry Potter. Aos 13 anos comecei a participar num fórum de Harry Potter onde milhares de fãs se reuniam para discutir os livros, comentar sobre os filmes ou falar sobre qualquer outra banalidade. Lá fiz amigos. Muitos. Alguns perderam-se com o passar dos anos. Outros, poucos, ainda persistem e mantenho contacto apesar de já não participar do tal fórum. A Leka não era uma amiga, não no verdadeiro sentido do termo. Não falávamos muito no msn. Lembro-lhe de falarmos uma ou outra vez sobre alguma coisa sem importância. Mas no fórum, trocávamos várias mensagens. Muitas. Discutíamos, trocávamos opiniões. Sobre tudo. Foi ela que me ensinou os primeiros passos no photoshop. Seguia o blog dela com relativa frequência. Era divertida, simpática, querida. Ainda que não fizesse parte do meu circulo de amigos, gostava dela. A Leka era uma pessoa muito fácil de se gostar.

Foi um choque quando recebi a notícia sobre a sua morte em Maio deste ano. Doeu. Mais do que alguma vez pensei que fosse doer. Senti-me doente, enjoada, com um nó na garganta. Fiquei tão mal disposta que não quis falar com ninguém. Nunca me tinha sentido assim. Estava em choque, sem querer acreditar, tentando processar, tentando ser racional. Nem eu entendia muito bem porque estava tão incomodada. Quer dizer, morrem pessoas todos os dias. Assim que cai na cama, abri a torneira e chorei até ficar cansada. Não conseguia parar de pensar na Leka, na jovem de 20 anos que tinha deixado de viver. Que não ia mais namorar..! Dei por mim a lembrar-me de frases dela, de desejos e sonhos que ela dizia querer concretizar e eu só conseguia pensar que ela tinha partido sem sentir a felicidade, a alegria de os realizar. Pensei nos pais, nos amigos, nos colegas.

Até que por fim, sosseguei. A verdade é que nós, por muito mal que fiquemos com a morte de alguém, estamos vivos e continuamos a viver a nossa vida. Nunca entendi muito bem as pessoas que, perante a morte de alguém, só falam "coitado do marido, da filha, dos pais...", etc, etc. Sempre achei que o coitado era a pessoa que tinha morrido. Os outros, mais tarde ou mais cedo, irão superar. Lembrar-se-ao com mais ou menos frequência do falecido, mas continuarão com a sua vidinha.

Tenho pena da Leka. E logo eu que odeio o sentimento "pena". Lamento que uma pessoa tão boa, com tanto para viver, tenha deixado de o poder fazer quando há tanta gente por aí à solta que, na verdade, não fazia cá falta nenhuma. Acho injusto. É nestas alturas que, apesar de católica, não consigo aceitar. Não me consola nenhuma ideia de paraíso ou algo do tipo. Sinceramente, já nem sei se acredito que tal exista.

Só tenho certeza de uma coisa: os 20 anos de vida de Leka foram vividos intensamente. Aproveitados ao segundo. Se alguém segue o lema "carpe diem", esse alguém é a Leka. Sei que, se eu morresse agora, não tinha nem metade de uma vida tão cheia, tão repleta de momentos. A Leka lembra-me que a vida é curta. Demasiado curta.


"Porque a vida é feita de inspirações…
Sempre."
- último post de leka, no seu blog.

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