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sábado, novembro 13, 2010

Vida de sapateira

Sei que estou num dia particular sensível quando, na peixaria do intermarché, me vêem as lágrimas aos olhos enquanto observo as sapateiras. Olho para elas, no gelo, a mexerem as suas pinças e patinhas - ou seja lá qual for o nome que se dá aos membros destes seres - e a olharem para mim. Um olhar de suplica, desesperado, um pedido de socorro silencioso. Penso como a vida é cruel para elas: são retiradas do seu habitat vivas e vivas tem que percorrer uma longa viagem até à peixaria a que estão destinadas, para então ficarem no gelo enquanto esperam que alguém as escolha. E quando acontece, mal sabem elas que vão ser cozidas vivas. E quanto mais penso, mais triste e com pena das sapateiras fico, assim como dos caranguejos e todos esses seres de carapaça que passam por tal tortura. E quanto mais triste fico, mais estúpida me sinto por estar a ponto de me tornar uma defensora dos direitos das sapateiras e companhia.

E então, a funcionária da peixaria, com uma enorme sapateira na mão, repara no meu olhar e, provavelmente a pensar que eu estava preocupada por ela ter aquele bicho na mão, explica com um grande sorriso: Elas não mordem, são meiguinhas! Os caranguejos esses, são uns trastes, não perdem uma oportunidade para usar as pinças.

Ainda me senti pior por umas sapateiras tão simpáticas terem tão triste fim. E enchi-me de orgulho dos caranguejos que dão luta até ao fim - e juro que eu ser do signo caranguejo não teve influência nenhuma no meu orgulho! Ocorreu-me o pensamento de comprar todas as sapateiras e depois devolve-las à liberdade, num gesto simbólico digno de registo.

Mas depois lá voltei à realidade, fugi ao olhar aflito das sapateiras e fui fazer o resto das comprinhas.

1 comentário(s):

Jedi Master Atomic disse...

Percebo-te. Mas se pensasse assim em relação a tudo, não podia comer...lol