.

terça-feira, outubro 19, 2010

A história da mini-camioneta

Hoje vi um homem na faculdade. Ok, vi muitos. Mas este era giro, giro, giro. E até pareço uma miúda que nunca viu um gajo à frente, mas se vocês o tivessem visto estavam como eu. Era o tipo de homem que temos que observar, ainda que discretamente. Que faz bem à vista. Que reduz todos os machos em redor a seres insignificantes. E não se tratava apenas de beleza física. Era mais do que isso. Tinha um q de misterioso e até os seus gestos mais banais eram charmosos. E estava sozinho, transmitindo uma ideia de inacessibilidade que ainda atraia mais. Nada de miúdas histéricas à volta dele, nem mesmo um amigo. Era só ele, à espera que a sua aula começasse, uma mala com os livros a tiracolo e o cigarro na mão. E eu que nem acho piada a gajos que fumam!

Observei-o à distância, a pensar que gostava de o conhecer. Não apenas por ser giro ou por qualquer razão indecente que vos possa estar a ocorrer. Era só mesmo para ver se o conteúdo corresponde ao pacote ou se é um bronco qualquer. E então, se correspondesse, sonhar com a possibilidade de algo mais. Talvez até lutar por isso.

E então, ocorreu-me que era areia de mais para a minha mini-camioneta. E este pensamento chateou-me. Muito. Chateou-me o facto de me estar a menosprezar, a concluir rapidamente que alguém como ele se podia interessar por alguém como eu. Chateou-me tanto que tentei pensar em algo para me consolar a mim mesma. Foi quando me ocorreu que talvez fosse bom ele ser areia de mais para a minha mini-camioneta. Porque de certeza que aquela areia toda ia desiludir-me, atraiçoar-me, roubar-me a gasolina e furar-me os pneus quando eu menos esperasse, exactamente como da última vez que recebi um carregamento de areia da mais alta qualidade (vulgo, ex-namorado). Era de tão alta qualidade que todas as camionetas de luxo a queriam transportar e competiam por isso. E a mini-camioneta sentia-se insegura e tentava não o demonstrar. E a areia assegurava que não havia motivos para tal, que só gostava da mini-camioneta, para sempre. A mini-camioneta convenceu-se e quando menos esperava a areia anunciou que estava confusa. Que havia uma camioneta que ela gostava muito, não sabia quanto. E que precisava pensar.

E a mini-camioneta chorou. Não muito porque teve medo de enferrujar. Sentiu-se ferida, traída mas a sua vida continuou. Pôs os limpa pára-brisas a funcionar, acendeu os faróis, buzinou e seguiu o seu caminho. Até que a areia voltou. E desculpou-se porque tinha cometido um erro. Que tinha percebido que nenhuma camioneta se comparava à mini-camioneta. Que ela era especial, única. E pediu para voltar a ser carregada pela sua camioneta querida. E esta recusou. A mini-camioneta ainda gostava muito, muito mesmo da sua areia da mais alta qualidade. Gostava tanto que recusar aquela oferta foi muito doloroso. Mas percebeu que nunca mais podia confiar na areia e que o amor não pode sobreviver sem a confiança. E que tinha o seu orgulho e amor-próprio.

Agora, pergunto-me, se a mini-camioneta não se terá reformado. Ou tirado uma licença sabática. Ou uma licença sem vencimento. Algo do tipo. Se não andará a fugir de qualquer tipo de propostas de carregamento de areia. Por medo. Medo de voltar a chorar, a sofrer. Medo de voltar a confiar e se arrepender. Ou talvez esteja simplesmente avariada e não consiga mais transportar areia. E fico preocupada com a mini-camioneta. Muito. E gostava de ajuda-la e não sei como. Talvez deva procurar um mecânico.

2 comentário(s):

sasha disse...

como é que sabes que ele é demais para a tua mini-camioneta? às vezes, somos nós que somos demasiado boas para a outra pessoa, e não estou a falar do exterior

sasha disse...

em resposta ao teu comentário: neste caso no nosso, porque também penso assim, é sempre mais fácil não arriscar do que pensarem que realmente conseguimos com aquela areia toda. mas e quantas vezes não vale a pena? conhece o tal rapaz, pode ser que valha a pena e que não seja em nada demais para a tua mini-camioneta :)