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quarta-feira, outubro 13, 2010

O céu é o limite

Hoje, quando voltava da faculdade, apanhei uma fila descomunal no trânsito. Culpa minha que me esqueci que a estrada está em obras e não fui por uma estrada secundária. O meu erro custou-me uma horita, mais coisa menos coisa, de fila às 4horas da tarde, o sol a brilhar lá no alto, o carro sem ar condicionado a virar uma estufa, os vidros abertos, a RFM no seu auge e eu lá dentro. Óculos de sol, rabo de cavalo e cheia de paciência. E não estou a ser irónica.

Nunca entendi muito bem porque as pessoas se irritam, buzinam e se insultam uns aos outros quando estão em filas. Não é por isso que a fila vai andar mais depressa, ou é? Não me entendam mal: de manhã, quando estou cheia de pressa, também não acho piadinha nenhuma ao trânsito. Mas não é por isso que descarrego todas as minhas frustrações na pobre buzina e nos ouvidos dos outros. Ao final da tarde, então, sem horas para chegar a casa nem nenhum compromisso inadiável, não me ralo nada. Dá-me para tudo. Pensar na vida, no que tenho que fazer, tentar recordar-me o que puder das aulas... Às vezes canto, faço umas mini-danças em que só mexo os braços e a cabeça, falo sozinha... Os outros condutores devem pensar que sou tolinha.

Só para variar, decidi voltar os meus olhos para o céu e entreter-me. O céu estava naquele tom de azul absolutamente perfeito: é um azul claro, meio celeste. E as nuvens brancas, como se fossem algodão fofinho. É uma das visões mais bonitas, ainda por cima à borla e nem lhe damos importância. Estive a fazer isso mesmo que vocês estão a pensar. Aquele jogo infantil de encontrar formas, imagens e desenhos nas nuvens. Era uma coisa que já não fazia há muito tempo, pois no dia-a-dia, não posso andar por aí de nariz empinado. Digamos que já sou desastrada o suficiente sem a minha cabeça nas nuvens.

Vi de tudo. Numa mesma nuvem as imagens sucediam-se num piscar de olhos. Primeiro começou por ser uma criança, com o cabelo como a Pipi das Meias Altas. Depois a nuvem mudou para algum ser mítico que talvez só exista na minha imaginação, de cabelos longos, vestido esvoaçante e expressão sonhadora. E logo a seguir era uma bailarina de ballet, com aquelas saias engraçadas e tudo. Uma pessoa com outra nos braços, desfalecida. Um leão, um veado. Um cão saltitante e de língua de fora.

Pergunto-me se a nossa maneira de ser, a nossa vida, sonhos e medos influenciarão, de algum modo, aquilo que vemos. E o que aquilo que vejo dirá sobre mim.


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