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quinta-feira, março 10, 2011

127 horas

Terminei agora de ver o "127 Horas". Fico sempre apreensiva antes de ver filmes nomeados para óscares, globos e essas coisas importantes. É trauma, talvez, da experiência de ver o filme "Colisão", que ganhou o Óscar de Melhor Filme e que eu, pessoalmente, detestei. Só não abandonei o cinema a meio com a minha irmã porque estávamos com uma amiga dela que estava a adorar o filme.

O 127 horas surpreendeu-me. Achava que ia ser só um monólogo enfadonho de um homem preso por um braço numa pedra. Mas é mais do que isso. Bem mais. A actuação de James Franco é brilhante. A dor, o desespero, o medo, a angustia, a frustração, o arrependimento por aquilo que ficou por fazer e por dizer, chegam até nós de forma muito realista. Damos por nós a pensar no que faríamos na mesma situação. Ou talvez apenas a pensar como é preciso estarmos em apuros, perante a possibilidade de não ver mais aqueles que amamos e de não poder fazer o que andámos sempre a adiar, para dar valor, para perceber o quanto estamos a perder. Confesso que, em vários momentos, as lágrimas surgiram no cantinho do olho que eu, teimosamente, reprimi.

A cena mais marcante, para mim, foi quando Aron amputa o próprio braço. Ainda ontem estava a falar sobre isso com a minha mãe, enquanto víamos "The Walking Dead". Comentei que não me achava forte o suficiente para cortar o meu próprio braço. Não sabia se, numa situação de vida ou de morte, da qual a minha vida dependesse da perda de um braço, ou de uma perna, ou de qualquer coisa que incluísse dor - muita dor! - se conseguiria ter frieza, sangue frio necessário para o fazer a mim mesma. Mas hoje, o final do filme 127 horas, fez-me voltar a reflectir no assunto. A verdade é que só podemos saber o que faríamos se formos confrontados com essa decisão e dela depender a nossa vida. Não é algo que possamos decidir previamente, porque não sabemos como vamos reagir em situações extremas. Contudo, Aron cortou o próprio braço, safou-se com vida do Grand Canyon, pôde abraçar novamente os seus país, ir ao casamento da irmã. Ele próprio casou e teve um filho. E tem a vida toda pela frente. Acho que, no final de contas, toda a dor por que passou valeu a pena.

E o melhor deste filme é ser baseado numa história real. É incrível a capacidade de sobrevivência humana, a situações que, à partida, nos parecem insuperáveis. Filme recomendado. Totalmente.

E fica também aqui registado o meu desagrado por Black Swan ter enchido os blogs por esta blogoesfera fora - e atenção que até gosto do filme! - e o mesmo não ter acontecido com 127 Horas. Só prova aquilo que eu já tinha concluído: as pessoas - ou, pelo menos, uma boa parte - não escrevem devido à qualidade ou porque realmente têm algo a dizer sobre o filme. Escrevem porque é mediático e está na moda.

8 comentário(s):

Jedi Master Atomic disse...

Não vou ver o 127h porque me faz muita impressão essa cena dele a cortar o próprio braço. Faço mesmo questão de não ver.

Mas olha que o 127h é tão mediático como o Black Swan. As pessoas não têm é tanto para falar sobre o filme porque é uma história linear, que já aconteceu e não tem mistério nenhum, ao contrário do Black Swan.

Carla Oliveira disse...

Vi ontem à noite o 127 horas. Fiquei boquiaberta.
Sempre tive a noção que em situações de vida ou morte, em momentos de completo desespero, o animal racional esquece a parte "racional" e vive apenas a parte "animal" mas, de todas as vezes que oiço ou vejo - neste caso - o que o ser humano consegue fazer, não consigo deixar de ficar surpreendida.
Às tantas, a adrenalina que nos percorre o corpo é tão grande que a dor é suprimida mas neste caso, acho que adrenalina nenhuma suprime o cortar de um braço a sangue frio, com uma navalha "Made in China" sem qualquer lamina - como ele diz.
Torci-me e contorci-me toda no sofá ao ver a imagem dele a cortar (devia-se dizer: rebentar por esforço) os tendões.

É um filme muito bom mesmo. Não me desfiz em lágrimas porque estava cheia de fome e tive que por o filme na pausa umas quantas vezes para ir comer :P Mas admito que, no fim, saíram umas lágrimas teimosas.

Admito que fiquei bem apreensiva para ver o filme. Pensava, tal como tu, que ia ser enfadonho. Tive uma má experiência com o Into the Wild (também baseado numa história verídica). O filme é giro mas enrolou demasiado para o meu gosto. A minha melhor amiga adormeceu à primeira meia hora!

Mas o 127 horas é completamente diferente. Envolve-nos completamente naquela história. Acabamos por pensar em tudo o que não gostamos de pensar, no que faríamos na mesma situação, se aguentávamos tudo aquilo, se seríamos fortes o suficiente, corajosos o suficiente, se teríamos tanta força para viver. Faz-nos pensar em todos os momentos que não aproveitamos, em toda a vida que podemos estar a deixar passar, se estamos a deixar que as pessoas percebam o quão importantes são para nós. É um frente-a-frente com a morte, e com tudo o que ela poderá significar para cada pessoa.

É um filme a ver por toda a gente.

M. disse...

Jedi, talvez mediático não seja a palavra correcta. É consideravelmente mais polémico e isso sim, talvez explique o fenómeno. Em tumblrs e blogs deu muita mais discussão do que filmes mais premiados, como o Discurso do Rei, por exemplo. Andou ai um tempo, na altura dos óscares/globos que praticamente todos os blogs comentavam o Black Swan. E às vezes era simplesmente um "gostei muito" ou "detestei". Não sei, mas parece-me que as pessoas por vezes, se sentem "pressionadas" a escrever sobre determinado assunto, só porque é um tema popular nos restantes blogs.


Sofia: realmente, a parte dos tendões acho que é a mais impressionante. Não pude evitar desviar o olhar em alguns momentos.

E ainda não vi o Into the Wild, mas agora perdi a vontade lol

Jedi Master Atomic disse...

Quanto a ti não sei, mas eu já fiz o meu post sobre o Japão. Fui pressionado...LOOOOL :P

C. disse...

eu gostei. mais do que o black swan.

Carla Oliveira disse...

LOOL Mini, tens de apontar o Into the Wild nos filmes a ver brevemente. A história é bonita, e cheia de citações bonitas, conversas bonitas, e tudo muito bonito mas... É grande :P Tens de te preparar para isso e para momentos mais parados. Mas posso dizer-te que deitei umas lágrimas em uma ou outra parte do filme. Há cenas que realmente valem a pena ser vistas ^^

Unknown disse...

Ando mortinha por ver este filme. Adoro filmes baseados em factos reais. Só há uma coisa que me mete confusão, é o facto dele amputar o braço, tenho ouvido dizer que várias pessoas desmaiaram nessa parte. E que tal tapar os olhos nessas partes? ;D
Concordo 100000% com o que dizes sobre o Black Swan. É um filme que ficou mais "na moda" e as bloggers esqueceram-se dos filmes verdadeiramente empolgantes e com um actor principal lindérrimo e com origens portuguesas ;) ahaha

M. disse...

Inês, quanto à parte da amputação, a minha mãe é uma piegas do caraças nessas coisas e viu e não achou que fosse caso para desmaiar. É tudo uma questão de ver o filme e na hora H fechar os olhos se for preciso lol