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quarta-feira, abril 20, 2011

Relações super-cola 3

A Carolina e o João são namorados, já há uns quatro anos. Vivem juntos, estudam na mesma faculdade. E não vivem um sem o outro. Quando a Carolina tem aulas e o João não, ele sai da caminha mais cedo e acompanha-a à faculdade. Só para lhe fazer companhia. E fica na faculdade, durante 2 ou 3 horas, no bar a tomar café e a ler o jornal enquanto ela está na aula, só para nos curtos intervalos de 15 minutos estarem juntos - isto se os professores decidirem fazer intervalo.

Por outro lado, quando o João tem aulas e a Carolina não, ela vai para casa. E quando vê que a hora da aula já passou, assim como os 15 minutos que ele demoraria no caminho, telefona-lhe, "só para saber onde ele anda e se demora". Faz a mesma coisa quando ele se atrasa na saída do emprego.

Quando ela trabalhava, jantava às vezes com os colegas de trabalho, porque saia às 19h e o João estava a trabalhar.. Isso rendeu várias discussões entre eles, porque ela tinha mais era que estar em casa e não a jantar com gajos que se estavam a atirar a ela.

O João sempre foi muito de sair, ir beber com os amigos. Entretanto, começou a cansar-se dessa vida e fica mais por casa, com a namorada. Mas, muito raramente, recebe amigos em Coimbra, sai com eles, embebeda-se e só chega a casa quase de manhã. E a Carolina fica chateada e discute com ele. Por ele sair, por ele beber, por ele ter chegado tarde a casa e por estar de ressaca no dia seguinte.

Mesmo nas férias a Carolina gosta de acordar cedo. Por volta das 9h da manhã salta da cama, para aproveitar o dia. Aproveita o dia para estudar, fazer limpezas, ir ao supermercado. O João é mais amigo de ficar na cama até às 11. Mas quem disse que pode? Nem pensar. A Carolina não deixa. Assim que salta da cama, dá só mais 30 minutos para o João a seguir, mesmo que o rapaz não tenha nada para fazer. E se ao fim de meia hora continuar na cama, ela chama-o, expulsa-o da cama, faz barulho pela casa toda para ele não dormir mais. Até que por fim ele desiste de dormir, sai da cama, arranja-se e vai tomar um café à rua. E depois volta e fica deitado no sofá a dormitar.

E esta relação existe. O João e a Carolina são meus amigos há quase 3 anos e dia após dia, acompanho o namoro deles, o controle, as discussões e as manias - dele e dela. E não acho normal. Não consigo achar normal namorados que passam 90% do tempo juntos, a respirar o mesmo oxigênio, como se estivessem ligados pelo cordão umbilical. Não acho normal o João ficar chateado por ela ir jantar fora com colegas de trabalho, assim como não acho normal os telefonemas da Carolina ao mínimo atraso e todo o drama por ele ter ido beber uns copos com os amigos. Acho ridículo que, perante um convite meu para uma ida ao cinema, ela diga que em principio sim, mas tem que falar com o João antes, "para ver se ele não se importa de ficar sozinho". A meu ver, há aqui alguma falta de confiança, controle a mais e cola a mais. Se fosse comigo, nunca resultaria. Sentir-me-ia sufocada. Nunca aguentaria alguém a controlar quantas vezes saio ou as horas a que acordo. Eu preciso do meu próprio espaço para, quando me apetecer estar sozinha, não ter que o justificar a ninguém, nem ter que pensar duas vezes em aceitar um convite para sair se me apetece ir. Mas quando me atrevo a dizer alguma coisa, vem logo o mesmo argumento, que falo assim porque não é comigo, que é preciso controlar os namorados, que quando se ama é assim e bla bla bla. E por último, que eu não sei nada da vida. E isto irrita-me. Irrita-me que as mesmas pessoas que me dizem que nem pareço uma miúda de 20 anos, quando lhes convém já sou uma catraia que não sabe nada, quando comparada com eles, que já estão no auge da sabedoria com os seus 25 anos. Consistência no que se diz também é uma coisa muito adulta, sabiam?

É neste ponto que desisto de tentar mostrar o meu ponto de vista. Porque não vale a pena.


10 comentário(s):

Joana | My Pretty Mess disse...

Conheço um casal pior. Acabaram por se afastar dos amigos...
E depois, se houver um fim, têm o quê?

Catarina disse...

Credo!!! O título foi mesmo bem empregue! Acho que também não manteria por muito tempo uma relação dessas.

Pupa disse...

Não se cansam?! Existe o ciúme saudável, existe o interesse e a preocupação norma, mas ... excesso!?

C. * J. disse...

Ora, conheço um casal semelhante, também namoram há uns 4 anos, eu conhecia a 'Maria', a partir do momento em que começaram a namorar, as notícias delas passaram a ser anuais (no melhor dos cenários) hoje só mandamos mensagem de aniversário, e..,e... Ambos se afastaram dos seus amigos, mas totalmente. Da parte dela eu era das amigas mais chegadas e ainda fui aquela que foi resistindo mais tempo, quando deixámos de ter contacto já ela não falava com nenhum outro amigo(a) há muito tempo, e assim se tem mantido, e ele também. Não sei se estão em pleno como casal, do que soube pela última vez, dito por ela, é que está tudo óptimo, mas iria ela ter coragem de dizer que não? Que estão juntos, estão, agora se bem, só eles sabem, literalmente, só eles podem saber, porque não se dão com mais ninguém. E como diz a Joana aqui em cima, 'e se houver um fim?', só sei que na cabeça daqueles dois, menos que 'para sempre' é uma hipótese mais que remota, daí esse problema não os atormentar.

C.

C. disse...

caredo. isso é doentio.

Emma disse...

Bem, ao menos vão à casa de banho sozinhos?

Eu também odeio quando se põem a dizer que não tenho experiência de vida, quando têm dois ou três anos de diferença de mim.
Sim, estava eu a nascer e eles já borravam as fraldas há três anos. Realmente, vão muito mais à frente.

Anónimo disse...

Com bastante tempo de namoro, já deviam ter aprendido que qualquer pessoa precisa de respeito pelo seu espaço, ser ela mesma e não um casal 24h por dia.

Namoro há 5 anos e meio, e ao longo do tempo fomos descobrindo o que resultava melhor para nós.

Há que haver ciúme saudável, confiança entre os dois, tempo para tudo (incluindo para os amigos) e, lá de vez em quando, uma cedência.

As relações duram porque, acima de namorados, essas pessoas têm que ser amigas e ver o/a companheiro/a como uma pessoa que também gosta de sair, divertir-se, estar com os amigos...

Jedi Master Atomic disse...

"...que é preciso controlar os namorados, que quando se ama é assim e bla bla bla.E por último, que eu não sei nada da vida..."

Ok, por um momento vamos admitir que não sabes nada da vida.
Eu tenho 33 anos e já vivi junto com uma pessoa durante algum tempo, para alem dos namoros circunstanciais. Sei o que é ter que partilhar o mesmo espaço e dar algumas satisfações de onde se está e com quem se está.

E posso dizer-te com absoluta confiança que essa relação que tu descreves está condenada ao fracasso. E se não for antes de terem um filho será depois.

Isso é uma relação nada saudavel e que não é baseada no respeito e na confiança, logo as hipoteses de ser bem sucedida são de 0,000000001%.

No entanto tenho que te dizer uma coisa: não mandes bocas sobre a relação a nenhum deles. Não vão entender o que queres dizer e vão levar-te a mal. Deixa-os enterrar-se por eles próprios e quando a coisa falhar, não digas o famoso "I told you so". Sim, porque quando acabar eles irão culpar-se mutuamente (e com razão) mas não sei se irão perceber o verdadeiro motivo da falha.

Sky disse...

Tens razão em quase tudo o que tu escreves mas estás errada neste aspecto, o de não teres que avisar o teu parceiro nem dar satisfações quando sais ou com quem vais.
Uma relação a dois.. é uma relação de duas pessoas e não de 1+1. temos que dar espaço obviamente à outra pessoa, deixar ir a jantares de amigas sozinha ou ir para qualquer sitio. Mas tens que avisar e perguntar com quem estás se existe algum inconveniente, pois pode ter já outros planos ou contar com alguma coisa. Não custa perguntar e não existe mal nenhum nisso. Até para tua segurança, saber onde estás e com quem estás. Comigo, uma relação do genero "não aviso quando saio nem para onde vou" não resultaria... não admito este tipo de pensamento num relação. Basta um papel no hall.. a dizer "fui ali" basta uma msg..tem que haver um controle saudável de cada pessoa do casal.
Mas isto sou eu.... cada um é como é :)
Beijinhos

M. disse...

Joana: Nunca conheci um casal tão extremista. A Carol e o João tem alguns problemas mas continuam a sair com os amigos.

Andreiazita: lol sim, pelo menos à casa de banho vão separados.

Jessica: O engraçado é que quando os conheci, eles não eram assim. Já viviam juntos e passavam uma boa parte do tempo juntos, mas a "cola" não era tanta.

Jedi: Eu nunca lhes disse nada, a não ser quando discutem e a Carolina faz de mim conselheira sentimental lol E ainda assim, não sou tão directa como o fui aqui, porque sei que ela não vai concordar ou querer ver que há algo errado naquele namoro.

Paulo: é claro que fui muito preto no branco no texto, e não é para levar tão à letra :P A ver bem as coisas, nem mesmo agora que sou solteira, posso ir para onde e com quem bem me apetecer sem dizer nada a ninguém, porque aviso sempre os meus pais, com quem vivo. O meu ponto é que eles deixam de fazer coisas que querem só porque o outro "não deixa". E não deixa porquê? Há algo motivo racional, algum motivo para o outro não gostar de determinada atitude? Eles não falam sobre isso, não tentam chegar a acordo. Simplesmente, se o outro diz não é não e pronto. E, na minha opinião, acabam por se isolar mais, até porque, por exemplo, quando o João nem se importa que a Carolina saia, ela mesmo assim anda à volta dele: "Mas tens a certeza, ficas bem? Promete que me ligas se precisares de alguma coisa." E liga-lhe várias vezes mesmo depois de sair de casa. Parecem totalmente dependentes um do outro e isso, a mim, faz-me alguma confusão.